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ARTES VISUAIS
Exposição
DESIGN GRÁFICO

O título desta exposição é apropriado diretamente de duas referências populares: O álbum de Silvia Machete e as personagens principais da novela “A usurpadora”.
Por um lado a tematização de uma suposta natureza claramente associada ao universo do espetáculo, da artificialidade e da teatralidade. Uma ideia de excesso e gosto exagerado vindo dos materiais escolhidos, ainda que os procedimentos a que são submetidos guardem alguma precisão.
Por outro, a ideia dos gêmeos que podem trocar de lugar, um assumindo o papel do outro. Um indicador de um dos conflitos centrais deste projeto: coisas que podem assumir o papel de outras coisas, dissimulando-se. Também vem bem a calhar que a novela sugeria uma permutação entre vulgar e opulente, bem e mal e vice versa, muito própria ao conjunto de objetos apresentados.
A exposição encena uma sala de estar onde os móveis e acessórios continuam funcionais, mas simulam alguma ação ou mostram alguma personalidade, como se todo o conjunto ganhasse vida, desfazendo a simplicidade do artifício no momento seguinte.
Objetos que se disfarçam de outros objetos iguais a eles mesmos. Não à toa, os revestimentos escolhidos para padronizar o conjunto se referem a animais predadores, pateticamente convertidos em objetos de decoração, como declarações de serem puro simulacro. Ainda que insistam em demonstrar, e ao mesmo tempo disfarçar, que têm vida própria.
As peças olham para si mesmas, para o conjunto e para o entorno. Há um fluxo de narrativas que se desdobra em cada uma das associações internas desses objetos e também entre as peças e o espaço, colocando a pergunta sobre estas relações em suspenso. Se o chão e o rodapé têm texturas, o excesso de padrões decorativos por esses trabalhos multiplicam os tratamentos de suas superfícies. Um exercício de decoração que fricciona os limites entre exposição, vitrine e qualquer outro meio de exibicionalidade.
O próprio aparecimento desses trabalhos são um problema central e dizem respeito à forma de percepção que temos em nosso tempo, marcada por reconhecer imediatamente o mundo através de códigos. Ao mesmo tempo, o dado apelativo inerente a esses materiais, aparece no trabalho com algum fundo reflexivo, ao menos sobre o próprio formato exposição, considerando trabalhos que se auto exibem excessivamente, enquanto outros se escondem. Há uma percepção espacial que não privilegia apenas a visão normativa, mas também uma visão periférica e descentralizada. Mesmo que paradoxalmente (ou por isso mesmo) esses objetos sejam devolvidos à condição de imagens planificadas.
Os duplos de Yamagata lidam com humor, com estes materiais que se fingem de outros materiais, pois estes apontam uma maneira de estar no mundo em que o verdadeiro e o falso se comutam, mas não se opõem. Os simulacros não são apenas um substituto rebaixado do real, mas outra maneira de lidar com ele, inclusive transformando-o ativamente. Podemos dizer que uma lógica de simulação permeia a vida contemporânea desde as macro estruturas decisivas para a esfera social, como a política, até as relações mais ínfimas e fundamentais da vida cotidiana, como os afetos e a sociabilidade, a esta altura da história completamente capitalizados, também.
Já não se trata de apenas novamente encenar na arte o mundo do consumo, como na arte pop. Afinal, mau gosto e bom gosto aparecem indiferenciados, assim como qualquer outra forma de vida que a princípio não era objetivo de mercado. Podemos dizer que a pergunta sobre como agir diante deste novo estado das coisas é um dos núcleos deste projeto, num esforço de desnaturalizar o habitual, reiterando-o.
Leandro Muniz
Janeiro de 2018